A celebração cumpre uma sequência de ritos até chegar o momento considerado o mais esperado do Quilombo, o Encontro de Reisados, o jogo de espadas – uma verdadeira guerra que acontece em pontos inesperados da cidade, na tentativa de tomar a rainha do outro grupo.

O Reisado que tira Quilombo em Juazeiro do Norte é formado por um mestre, dois palhaços Mateus com o rosto pintado com óleo e carvão, uma Catirina (homem vestido de mulher), o rei, a rainha e o contramestre, ladeados por dois cordões – de cada lado e em fila, embaixador, guia, contraguia, coice, contracoice, e o bandeirinha.

O grupo sai na rua seguido pela banda cabaçal composta zabumba, caixa, tarol e pífanos, com a participação eventual de rabequeiros, sanfoneiros e violeiros.

O Guerreiro é uma variação do Reisado desenvolvido por mulheres lideradas pela mestra Maria Margarida da Conceição, 90 anos, Tesouro Vivo do Estado do Ceará.

No Quilombo, o Reisado obedece o seguinte roteiro: após a chegada e o trajamento dos brincantes na sede, o mestre ou outra pessoa designada por ele reza na Sala do Santo pedindo proteção para a jornada de Reis. Em seguida, o grupo sai em cortejo pelo bairro, percorre seu território e aos poucos vai tomando a cidade ao som da zabumba, das caixas, da viola e do pífano, vivenciando uma sucessão de obrigações, penitências, aventuras e peripécias numa caminhada sob um sol escaldante, alcançando distâncias inimagináveis até o anoitecer, quando os brincantes retornam para as casas.

Durante os cortejos, os reisados visitam as casas de amigos, outros mestres e brincantes aposentados, familiares de praticantes, simpatizantes e pessoas que contribuem com a brincadeira, igrejas, locais sagrados como capelinhas escondidas, pedras e cruzeiros onde “tiram o Divino” cantando e dançando peças antigas, alusivas à história de Juazeiro e ao Padre Cícero, bem como composições mais recentes criadas nas toadas de valsas, baião e pinicados de viola.

Cada Reisado tira Quilombo seguido pela sua comitiva, formada por moradores do bairro, familiares e simpatizantes que facilmente podem somar mais mil pessoas. Nesse caminhar pelas ruas, vivenciam provas de resistência física e emocional, passam medos e sustos, protagonizam batalhas, perseguições, fugas e vitórias.

Em Juazeiro do Norte, a Capital do Reisado, mais de 25 grupos tiram Quilombo em 25 de dezembro, 01 e especialmente 06 de janeiro, Dia de Reis, quando todos estão nas ruas.

Durante os cortejos, quando dois ou mais reisados ou guerreiros por acaso se encontram em algum ponto da cidade, um complexo ritual acontece: toques de zabumba e pífano, sinalização por bandeiras e trocas de embaixadas entre os Mateus, os mestres, os reis e os embaixadores, a cena vai ficando cada vez mais tensa, até que no auge pode estourar a Guerra – o jogo (combate) de espadas é desencadeado entre os Reis, mestres ou embaixadores, com o objetivo de tomar a rainha do outro Reisado.

O Encontro de Reisados é o momento mais esperado pelos brincantes e acompanhantes, é a apoteose da festa. Antes dos Reis baterem espadas, os entremeios de cada grupo também costumam se enfrentar no rito do “Rei do Relho”, de extrema coragem, perícia e vitalidade.

O jogo de espadas acontece por meio da “marcação do ponto”: antes de bater, o brincante preserva o adversário, ele avisa por meio de movimento desenhado com a arma no ar em qual parte do corpo irá atacar, para que o outro possa aparar o golpe e não se ferir, responder com o contra-ataque e assim os dois prosseguirem a brincadeira como uma dança guerreira, marcada no compasso do tilintar do metal e do aplauso do público.

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